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2 de junho de 2018

Meu amigo conservador de direita

Todo argumento no mundo é baseado na perspectiva. Meu amigo pensador da direita compreende uma insatisfação com a condição humana dele e da sociedade pois o mundo é deficiente em justiça, sabedoria e ordem consequências de causas transcendentais e não meramente naturais. Do ponto de vista dele a falha reside na natureza decaída humana e não simplesmente fruto de um sistema político estabelecido, portanto, se opor aos poderes estabelecidos sob a justificativa de defender a justiça social e retificar a antiga questão dos oprimidos mudando a história e instalando uma espécie de paraíso na Terra pela tomada dos meios de produção é utopia acredita ele. Trocando em miúdos, enquanto Jesus Cristo e sua Igreja ensina os pobres a ver Deus como a fonte suprema de provisão de necessidades materiais, a seita esquerdista e o marxismo cultural ensina os pobres a ver o governo e o Estado como a fonte suprema de provisão necessidades materiais. 

O conservadorismo não se explica por uma lógica estritamente política. Conservadorismo, na visão do meu amigo, é um ativismo de natureza moral, espiritual e política para conservar, ou preservar, valores que possam minimamente manter uma sociedade em condições de liberdade religiosa, vida, família, trabalho, segurança e propriedade. Para ele a sociedade pode ser mais pluralista, mais diversa, mais aberta e menos dogmática, sem no entanto que para isso, a sociedade abra mão de conquistas e valores que merecem ser conservados.




Conversei, nestes dias, com um sujeito que se autodefine por coisas que ele até concorda em termos de economia, porém, é totalmente contra no aspecto moral da sociedade. Abomina a corrupção e todo e qualquer partido político que tenha bandidos de estimação; tem horror à esquerda, vez que é comunista, defensora da vagabundagem que defende a impunidade e apoia “essas coisas” de aborto, de erotização infantil nas escolas, de feministas e homossexuais. Não que ele seja machista nem homofóbico, claro que não, até tem um amigo gay discreto. Autodefinições à parte, quando simplesmente saímos do que ele não gosta, o que se depreende é que o meu amigo é um conservador. De direita.

Está feliz e animado com o crescimento da bancada cristã no Congresso Nacional, não acredita em Temer, que considera corrupto, e admite tranquilamente que toda aquela mobilização de 2015 e 2016 pelo impeachment teve a ver com crime de responsabilidade fiscal sim e representou ainda um grito de protesto conta a depravação moral da sociedade brasileira. Foram eles que "inventaram" essa história de que os seguidores de Lula são robôs com seu "efeito manada", onde já se viu? Acha que os cristãos estão crescendo e que isso essa divisão da sociedade em grupos antagônicos está dividindo o país, inclusive propagando discursos de ódio. O que, segundo ele, é muito ruim e um sinal de que “o Brasil” está no caminho errado e precisa mudar, afinal a alternância de poder numa democracia é fundamental. Acha que assim que a justiça for feita e coloque políticos comprovadamente ladrões atrás das grades, ainda restará muita luta pela frente pelo fato de outras forças políticas esquerdistas lançarem seus candidatos à presidência em 2018. As últimas pesquisas, de fato, demonstraram que a esquerda lançará vários candidatos conhecidamente defensores do continuísmo e de tudo que um brasileiro "normal" abonima como Ciro Gomes, Luciana Genro, apesar dos seus planos de governo abertamente apoiar a anarquia e liberalismo vários.

Liberalismos que, inclusive, têm vindo de onde menos se esperava: do MBL, elegendo Fernando Holiday (homossexual assumido e defensor da causa LGBTI+XYZ) que finge ser contra a esquerda; da Globo essa já não consegue disfarçar que apoia tudo que a esquerda defende no aspecto imoral. Estão todos a favor de Bolsonaro, o que é ótimo porque a sociedade brasileira também está, acredita o meu amigo. Nem os poderosos nem essa mídia comunista - encabeçada pela Globo e Folha de São Paulo – vão conseguir derrubar a intenção de votos no seu candidato ou evitar que os apoios à sua candidatura cheguem de todos os lados. Principalmente agora, com o reforço que está recebendo de figuras emblemáticas da nova direita, como a youtuber Paula Marisa, Bernardo Kuster, Silas Malafaia, Magno Malta e a tuiteiro Julio Severo e seu blog,  e que podem ser grandes puxadoras de votos em 2018.

Meu amigo sente-se em casa na direita, que, finalmente, se assumiu, depois de 16 anos (Temer é de esquerda, óbvio) com o esquerdismo lhe sendo enfiado goela abaixo. Quando lhe contestei que, a rigor, Bolsonaro não tem muito das coisas que caracterizam a direita republicana, como o antiestatismo, a confiança em políticas de austeridade fiscal e a ênfase nas liberdades dos mercados, chegamos à conclusão de que o que interessa ao meu amigo não é principalmente a política econômica da direita pois o socialismo não se restringe aos aspectos econômicos mas sobretudo aos conservadorismo moral, e aosua posição cristã sobre a ética, a ordem, e a liberdade individual das pessoas. A principal pauta eleitoral do meu coleguinha conservador de direita é a defesa dos valores éticos e morais, a certeza de que uma mão forte do Estado não é e nunca será a resolução definitiva para o problema, e a convicção de que dentre as opções com a maioria dos candidatos pertencendo a esquerda Bolsonaro será a única opção para impedir que a esquerda volte ao poder podendo assegurar uma alternativa crível neste sentido.  

A direita conservadora não confia na esquerda liberal nem cogita em aliar-se a ela, a não ser que esta se volte ao princípios basilares do Cristianismo. Mas quer, assim como defende a esquerda, um Estado grande e forte, governado com pulso firme e o fim do estado geral de baderna em que o país se meteu. Sem para isso sacrificar quaisquer liberdades e garantias individuais. Meu amigo conservador de direita é, ao fim e ao acabo, tão antiliberal quanto antiesquerda. Diria até que tem mais horror ao liberalismo do que à esquerda, embora não seja absolutamente capaz de pronunciar uma frase como esta, tanto por lhe escapar o sentido quanto porque pressente que o apoio de certos setores ditos liberais a Bolsonaro pode vir a ser importante. 


O meu amigo quer, além disso, o fim da “desordem moral” produzida pelo pelo aumento da criminalidade como nunca se viu no Brasil, pela nefasta “ideologia de gênero” e erotização infantil nas escolas do Brasil, e apesar de defender os direitos dos homossexuais entendem que o gaysismo, isto é, o ativismo político no Congresso Nacional que pouco tem a ver com direitos LGBTs busca no final perseguir a Igreja de Cristo, principal resistência as ideias esquerdistas, e no final impedir a livre expressão dos ensinamentos cristãos que abertamente é contrária a prática sexual entre pessoas do mesmo sexo e de forma alguma condena a pessoa, muito pelo contrário, com muito amor o levo ao arrependimento e a mudança de conduta já que, conclui ele a postura cristã, baseada na Bíblia, é que a homossexualidade é uma perversão que causa doenças e distúrbios. A realidade é suficiente para provar isso e desmentir teorias comunistas.

Subsidiariamente, quer impedir que quase duas décadas de lavagem cerebral esquerdista dos meninos na escola possa continuar com a distribuição de cartilhas gays que claramente incentivam desde a tenra idade à erotização infantil. É preciso restaurar a verdade sobre o Cristianismo, que foi necessário para impedir, isto sim, a ditadura dos comunistas em 1964 que apesar dos reconhecidos excessos que cometeu a intervenção militar salvou o Brasil de se transformar no que hoje é a Socialista Venezuela.

A julgar pelo meu amigo, o conservador de direita é muito sensível ao argumento do “degradação moral” causado por uma visão de sociedade esquerdista que sonha e criam leis no congresso para aprovar a liberação das drogas, o aborto, a bigamia, a depravação da juventude dando-lhe liberdade sexual e o tão famoso slogan "é proibido proibir" pregando a desordem com gritos #fimdapoliciamilitar e a caos generalizado ao por em descrédito a imagem do País, especialmente no exterior provocando o pânico e o desassossego na população por meio da inflação; É neste contexto que palavras, que em em alguns provocam risos de desdenho, como “comunismo”, “ideologia de gênero”, “feminazismo”, “gayzismo”, e outras, são levadas muito a sério para dar nome e forma ao monstro moral que lhe apavora.

O conservador de direita se sente soldado em uma guerra moral contra o Mal metafísico e pressente que, enfim, tem uma chance de virar o jogo depois de 16 anos de degradação. 

Entende perfeitamente que o liberalismo nos costumes, não é responsabilidade exclusiva da esquerda. Sabe ele que há liberais de direita, e não são poucos verdadeiros lobos em peles de cordeiro. Hoje é sem dúvida muito mais difícil discernir e separar com nitidez a clivagem relacionada à diferença política (direita-esquerda) da clivagem relativa à divergência moral (conservador-liberal), apesar da esquerda assumir papel de protagonista nesse enredo: aborto, defesa da bandidagem, degradação moral da sociedade, corrupção, políticas imorais e, claro, comunismo.

A direita clama aos quatro ventos que haja respeito pela autoridade, segurança pública e tranquilidade para as pessoas de bem, que sejam respeitadas as leis, que haja ordem, organização, nacionalismo.

A direita conservadora passou a gostar de política e por isso entende que a escolha por bons políticos é importante para a nação que com uma caneta nas mãos promulgam leis e decretos que impactam a todos os brasileiros. Quer bancadas fortes de pessoas conservadoras para acelerar a demolição “cultural” do legado esquerdista, que entende basicamente como uma baderna moral. Aprecia  e defende a existência de valores bons e saudáveis que precisam ser conservados e mantidos, sem entretanto de forma autoritária. O fato de  Bolsonaro estar incomodando os comunistas da Globo e da Folha e, sobretudo, dando úlceras nas pessoas de esquerda, já é um sinal de que devemos apoiá-lo.


Meu amigo conservador de direita pode estar muito equivocado, mas não está sozinho boa parte dos brasileiros pensam dessa forma. De toda sorte, há pelo menos uma coisa sobre a qual ele tem razão: uma boa parte das pessoas estará votando em 2018 por razões morais e não por razões estritamente políticas ou de economia política. O fenômeno Bolsonaro não se explica em sua maior parte por razões que obedeçam a uma lógica estritamente política ou que tenha em consideração políticas públicas para lidar com a economia brasileira. Antes, a candidatura de Bolsonaro é a mais absoluta quimera destes pontos de vista. Por outro lado, o meu amigo conservador é, neste sentido, bem mais lúcido do que muito cientista político e comentarista de campanhas eleitorais, ao identificar na disputa moral as raízes mais arraigadas do bolsonarismo e no crescimento da imoralidade a sua principal estratégia eleitoral. E que uma posição moral vá, por enquanto, liderando as intenções de voto e tenha a possibilidade de eleger um presidente não deixa de ser inquietante.