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17 de abril de 2014

Como a religião e suas crenças define o rumo de nações

Nesse texto o autor nos traz uma possível interpretação da causa de nosso povo ser o que é. Vale a pena ler.

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Existe destino e grande parte dele está nas mãos de Deus. Somente a família é confiável. Se o governo não faz a parte dele, então não há por que fazer a sua parte.

Essas frases expressam fatalismo, uma visão familista e falta de espírito público. Características que já foram identificadas por cientistas sociais como atributos marcantes nas sociedades mediterrâneas e ibéricas.

No caso do Brasil, apesar da mistura de raças, o país é, com certeza, uma invenção portuguesa. E, como tal, herdou o fatalismo religioso de origem católica, a noção de importância da família nas relações sociais e a idéia de que o espaço público não é de ninguém. Essas concepções também povoam nossas interpretações sobre a sociedade.

Há grande contraste com a matriz social anglo-saxã de origem protestante. A predestinação calvinista fez com que povos como o norte-americano agissem no mundo por meio do trabalho. Nos países anglo-saxões, o indivíduo tudo pode, principalmente quando em associação com outros indivíduos. Sua extrema mobilidade geográfica só é possível porque os laços familiares, quando comparados a outras relações de confiança, não são demasiado fortes. Nesses países, a palavra community tem um significado bem diferente da nossa “comunidade”, muitas vezes eufemismo para favela ou área de moradias populares. Community, para os anglo-saxões, é um espaço sobre o qual todos têm responsabilidade.

Tais noções, que podem ser atribuídas ao molde religioso – católico versus protestante –, podem também ser associadas ao esforço educacional. Nesse sentido, os anglo-saxões empreenderam uma das maiores mobilizações sócio-religiosas de que se tem notícia.

Segundo versões massificadas da teologia protestante, a ignorância é obra do demônio, é prima-irmã de Satanás. Em sociedades pouco escolarizadas, ao contrário, é onde se encontram mais freqüentemente fatalistas avessos à noção republicana de espaço público. É o que acontece no Brasil, onde essa é a visão dominante entre a população: simplesmente 1/3 dos adultos acredita que Deus decide o destino dos homens, sem espaço para a mão humana.

Esse contingente, somado aos 28% que acham que, apesar do destino estar nas mãos de Deus, o homem tem uma pequena capacidade de modificá-lo, resulta que 60% da população acreditam que grande parte do que acontece com os homens está fora de seu controle. No extremo oposto, apenas 14% da população adulta brasileira acreditam que não há nenhum desígnio além da capacidade humana de definir sua própria vida.

Fonte: ALMEIDA, Alberto Carlos. A cabeça do brasileiro. Rio de Janeiro:
Record, 2007.

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